Jockey, Campo Grande




Se a associação das palavras hipódromo e Campo Grande vos parecer estranha não faz mal, acontece a muito boa gente, no entanto desde 1930 que existe um Hipódromo no Campo Grande. E sim, estou a falar do Campo Grande em Lisboa e não de Campo Grande no Ribatejo (que não existe). E sim, estou a falar de um hipódromo e não do Estádio Universitário, apesar de ficarem perto um do outro.


  

Um restaurante dentro de um hipódromo? E porque não. Especialmente depois de ver a ementa e as fotos do espaço, não havia razão para pensar duas vezes ou ter cold feet (que efectivamente tive mas foi por causa da chuva e frio que se faziam sentir na noite em que lá fomos jantar, nada teve a ver com arrependimentos).
 
Na teoria, chegar ao hipódromo do Campo Grande é fácil, fácil, tão fácil que ir ver à internet até causa algum embaraço. Na prática, essa facilidade esgota-se quando se chega à entrada do Hipódromo, depois disso é preciso querer mesmo chegar ao restaurante. Com chuva, escassa iluminação pública, crateras na "estrada" e uma sinalização episódica e eventual, quando estacionei perto do restaurante, apenas me ocorreu pensar, como é que consegui? Claro que com bom tempo tudo será mais fácil e de dia então, um espetáculo! Em dias mais negros, há que ter espírito de aventura (e um jipe). Ponto positivo, não há dificuldade em arranjar estacionamento.




E eis que surge um letreiro bem visível, talvez realçado pela escuridão que nos rodeia, a identificar o edifício onde fica o restaurante. Um grande bem haja a quem teve a ideia de o fazer pois como podem ver, a entrada do restaurante não podia ser mais discreta.

Do outro lado da porta, existe outra porta que abre para uma sala de jantar completamente inesperada, especialmente depois de tudo o que deixámos para trás, no caminho até aqui. De repente as minhas calças de ganga sentiram-se incomodadas, desejando ser de outro material qualquer ou, pelo menos, de uma cor menos ganga. Tinha visto fotografias do restaurante mas minimizei a coisa, ao deparar-me com a sala ao vivo e a cores percebi que não eram exageradas. Realmente é uma sala decorada com uma sobriedade e, na falta de melhor palavra, classe, onde tanto se podem realizar jantares românticos, jantares de família ou fechar negócios milionários. 




A sala tem duas áreas distintas, uma área de mesas, junto às janelas, e outra de boxes onde é possível ter uma maior privacidade. As divisórias entre as boxes fazem lembrar as divisórias que existem nas cavalariças para separar os cavalos (eu quero chamar-lhes baias mas tenho receio de lhes estar a chamar um nome feio). Tudo decorado com um gosto simples e sóbrio mas algo requintado, fazendo com que uma pessoa se esqueça completamente que existe todo um mundo lá fora. 

Após nos sentarmos na nossa mesa, foi-nos servido o couvert e apresentada a ementa. Ambos escolhemos a bruscheta de camarão como entrada, tendo depois divergido em termos de pratos principais, eu pedi os bifinhos de veado com molho de três pimentas e a minha companhia costeletas de vitela mertolenga ao maitre D'Hotel.

Não poderíamos ter aberto as hostilidades de melhor forma, a bruscheta estava para lá do divinal. Saborosa, temperada no ponto, de comer e pedir encore. Só de escrever sobre ela cresce-me água na boca.


Bruscheta de camarão


Ao fim de algum tempo vieram então os pratos principais. Muito bem servidos em termos de carne, sendo acompanhados por batata frita e esparregado. A carne estava muito bem temperada, macia, sem oferecer qualquer resistência à faca que calmamente a ia separando do seu todo. Nunca tinha experimentado carne de veado, não é má mas não achei que tivesse um sabor que a distinguisse de forma preponderante de outras carnes vermelhas. O molho de três pimentas estava ótimo, tanto que não resisti em molhar o pão no molho (sim, a problemática das calças de ganga já estava para trás das costas, já tinha voltado a ser eu próprio, alguém sem grande respeito pela etiqueta).


Costeleta de vitela
Bifinhos de veado


Nas sobremesas é que a coisa não correu tão bem, pelo menos para quem teve a infelicidade de escolher o bem-bom de chocolate (not me!), pois quem comeu o Mil folhas de arroz doce não poderia ter ficado mais contente. Que surpresa magnífica! O arroz doce ainda vinha quente, com uma consistência aveludada que (pensava eu) só a minha mãe conseguia, com a quantidade de doçura perfeita (detesto doces demasiado doces) e o toque original das mil folhas.

O bem-bom de chocolate pois blagh.... não era mau de intragável mas simplesmente também não era fantástico, especialmente ao lado do arroz doce.


Mil folhas de arroz doce
Bem-bom de chocolate


Não é um restaurante barato, pois que não é. Quem não pretende deixar 30€ pp (ou mais) num jantar, embora a comida seja ótima, o espaço tenha um ambiente e decoração excelente e o atendimento não poderia ser mais atencioso e prestável, poderá fazer como nós fizemos e ir na altura do Restaurant Week. Foi uma excelente escolha.

E quem sabe, num dia de devaneio, venha até ao Jockey para comemorar uma qualquer ocasião especial. Fiquei fã do restaurante, algo que nunca diria enquanto o tentava encontrar :-)

P.S. A saída também não foi fácil, alguns de nós andámos às voltas para encontrar a saída.



Sociedade Hípica Portuguesa Hipódromo do Campo Grande
1600-008 Lisboa
21 795 75 21 | 92 710 40 08

Horário | 2ª a Sáb - 12h/16h + 19h30/24h | Dom 12h/16h

FB / Site




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