Volver by Chakall, Lumiar







É verdade que nos dias que correm sou apenas um consumidor (muito) esporádico de programas de culinária, quer sejam nacionais ou internacionais, tanto que é através de alguns amigos dados à causa que faço um update do que se passa no mundo frenético da culinária televisiva. Já lá vai o tempo em que via fascinado o Ready, Steady, Cook! na BBC Prime (dando os primeiros passos no mundo das séries não legendadas), ou acompanhava as aventuras do Jamie (ainda com um ar acabadinho de sair do infantário), ou ficava enfeitiçado com a Nigella a abocanhar um qualquer prato diabolicamente apetitoso como se não houvesse amanhã (para mim, o verdadeiro porn food... ninguém abocanha como a Nigella).

Bem, isto tudo para dizer que quando me falaram em ir jantar ao restaurante do Chakall não franzi o sobrolho nem emiti qualquer exclamação estilo "Oi? Quem?" ou "É suposto saber quem é?" revelando assim um certo analfabetismo culinário. Em vez disso fiz um brilharete e disse "esse é aquele do turbante com sotaque espanhol, certo?", ao qual me responderam que sim, é esse mesmo. A curiosidade (e a companhia, claro!) fez com que decidisse aceitar o convite para jantar, afinal o que cozinha um argentino que usa um turbante?

Agora que já dissertei longamente sobre como fui ter à porta do Volver, vamos mas é falar do restaurante em si :-)

Comecemos então pelo que mais me intrigou no restaurante, a sua localização. Admito que fiquei surpreendido pelo local onde se situa o Volver. Primeiro porque o Lumiar pareceu-me um local inesperado para um cozinheiro mediático, normalmente têm a tendência de escolher zonas nobres como Chiado, Av. Liberdade ou Campo de Ourique. Segundo porque mesmo dentro do Lumiar não poderia ter escolhido local mais anónimo e... como hei-de dizer... pouco bonito.

O Volver fica nas traseiras do ISEC (Instituto Superior de Educação e Ciências), virado para uma zona de estacionamento situada no meio de prédios puramente residenciais (e a precisar de uma borradela na fachada) e que adquire um ar algo inóspito à noite. On the bright side estacionar à noite não se reveste de grande problema.
 
 
 
 
Por isso quando forem ao Volver (e espero que o façam) não se deixem assustar pelo local onde o restaurante se situa.... não façam chegar e volver (piadinha fácil, fácil) pois só quem entra no convento, sabe o que lá vai dentro ;-)

E esta é a deixa para falar do que mais me surpreendeu no restaurante, a sua decoração e ambiente. Talvez (quase de certeza) sugestionado pelo cozinheiro que dá a cara por este restaurante estava à espera de entrar e encontrar algo vibrante com muito ruído de cores e texturas, estilo México meets India (a imaginação realmente não tem limites). Mas não.... estão a ver a Torre de Belém? Não tem nada a ver.






O que encontrei quando entrei no restaurante foi um ambiente calmo com uma decoração moderna com predominância dos tons castanhos e uma iluminação suave e quente. Os candeeiros de tecto são, muito possivelmente, o elemento decorativo mais marcante, acentuando o ambiente moderno mas intimista.
Por isso, se procuram um restaurante com pendor romântico não procurem mais, o Volver tem um ambiente, decoração e iluminação que grita em plenos pulmões mão sobre a mão, olhares melosos e conversas pré-nupciais.

Mas grupos de amigos são igualmente bem vindos por isso não se acanhem, nós éramos um grupo pequeno (mas com muita vivacidade) e sentimo-nos em casa.

Para entrada escolhemos Carpaccio de Polvo e Crioulo de Manga e Pimento recheado com Alheira, Cheddar e ovo. 


 


Quem comeu o Carpaccio disse que estava muito bom... ainda me ofereceram para provar mas não tive coragem para aceitar. Era tão pouquinho que parecia que ia tirar comida da boca de um sem abrigo... eu sei que Carpaccio é sempre um risco mas...
Já o pimento recheado com alheira foi outra história. Estava excelente de sabor, bem servido e com um aspecto delicioso (vitória para a Team pimento!).

Em termos de pratos principais vieram para a mesa Bacalhau de três maneiras com puré de grão de bico e Matambrito á la pizza com papas al plomo e rúcula. 

 


O prato do Bacalhau, trazia uma salada fria de bacalhau, bacalhau panado e bacalhau gratinado com espinafre, puré de grão e esfarelado de broa com noz. Quem comeu o bacalhau disse que estava excelente mas para quem olhava de fora (eu próprio) diria que a quantidade de bacalhau era ridícula em comparação com o puré no prato, os sabores até poderiam estar lá mas as quantidades mais pareciam de uma prova e não de uma refeição. 
Já o Matambrito foi outra história. Estou a comer pizza? Estou a comer secretos de porco? Estou num irish pub? Não, estou a comer Matambrito á la pizza com papas al plomo :-) Fiquei realmente fascinado com o conceito de ter uma pizza cujo fundo era carne tenra que se desfazia a cada corte (vitória para a Team Matambrito!).

 
 
 
Para sobremesa vieram cheesecake de queijo da serra e doce de abóbora e crumble de morango e ruibarbo com custard de mascarpone. Aqui tenho de dar o braço a torcer, quem comeu o crumble saiu vencedor mas também não por grande margem :-) Para comer este cheesecake é preciso gostar mesmo muuuuiiito de queijo da serra pois o sabor deste está lá e com grande intensidade, algo que (quase) me impediu de chegar ao fim (e a quantidade era pequena nem quero imaginar se tivessem servido uma dose mais normal). O crumble era menos agressivo para o palato mas ainda assim não especialmente brilhante.
 
No fim pagámos pouco mais de 25€ por pessoa (sangria a quanto obrigas....) mas valeu bem a pena. Atendimento educado e atencioso, espaço muito agradável (começámos o jantar às 19h30 e só saímos perto das 23h... primeiros a entrar e quase os últimos a sair) e excelente comida. Os pratos entretanto já mudaram por isso quem sabe está na altura de uma nova visita :-)


Rua Luís de Freitas Branco 5 | 1600-488 Lisboa

Horário | Almoço: 2ª a 6ª - 12:30 às 15:30
Jantar: 2ª a 5ª - 19:30 às 00:30 | 6ª e Sáb - 20:00 à 01:00
Encerra aos feriados e Domingo.




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